terça-feira, 7 de abril de 2009

Racunhos da filosofia pré-socratica


Deixam-se levar, surdos e cegos, mentes obtusas,
massa indecisa, para qual o ser e o não ser é considerado o
mesmo e o não mesmo, e para qual em tudo há uma via contraditória.
(Parmenides)





Sempre foi uma necessidade intelectual do homem entender o por que da vida e seus princípios, criamos lendas, mitos, nos entregamos a religiões, pensamos sobre o que rege a vida, e que faz com que ela seja em contraponto ao seu contrario. Não foi diferente com o inicio do pensamento filosófico. O aparecimento da escrita, da moeda e consequentemente o advento da pólis grega, entre outros fatores, influenciaram os chamados “filósofos da natureza” a se debruçarem para responder esta simples pergunta: de onde vem tudo? Por que não o nada?




Tales de Mileto ao afirmar que “tudo está cheio de deuses” passa longe do raciocínio mítico predominante na época, ele dá os primeiros passos com o “rompimento” do mundo dos deuses e o do humano, denota que o mundo é dinâmico e repleto de animação, ou seja, não estamos em um mundo estático, a matéria é viva, vai mais longe ainda ao dizer que “a água é o principio de todas as coisas”, pois abstrai da natureza algo que viu em comum, começa assim a distanciar o homem da natureza, não no sentido de isolar, e sim para melhor observar, passa a dominar o que antes era apenas exclusividade dos deuses, saímos da vontade dos deuses e passamos a ser protagonistas do movimento que nos rodeia.




Mais longe ainda vai Anaximandro ao lançar mão de um conceito totalmente abstrato como o apeiro(ilimitado, indeterminado), provavelmente queria dizer que tudo o que conhecemos é limitado, e que para que esses existissem haveria de ter como principio algo ilimitado, por serem determinados, um principio determinado, do ilimitado surgiriam vários mundos, e estes estão em constante movimento, o apeiron seria uma espécie de massa geradora.




O que mais chama atenção no pensamento dos chamados “filósofos da natureza” é a dicotomia entre Parmenides e Heráclito, para o primeiro o ser é imóvel, não há como pensar em nada que não é, segundo este, é uma contradição contradição inaceitável pensar no não ser, Parmenides não nega o movimento, diz que este existe apenas no mundo sensível, mais tarde este principio foi chamado de identidade ou não-contradição. Na contramão encontra-se Heráclito. Sua afirmativa de que “nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio” resume bem seu pensamento, segundo ele, as coisas estão em eterna mudança, tudo muda a todo instante “ o que mantém o fluxo do movimento não é o simples aparecer de novos seres, mas a luta dos contrários … é da luta que nasce a harmonia”1.


Marcados por estes filósofos até hoje nos encontramos, sempre estamos na constante busca de um principio que reja o regente ou mantenedor da vida, as mesmas preocupações que rodeavam o mundo pré-socrático, os vários sentidos que a physis tem no mundo grego antigo expressam os vários modos como o pensamento se desdobrou para responder tal questão, o importante não é saber qual delas está correta, ou que alguma esteja, mas sim a ruptura com o mundo mítico e consequentemente o inicio da era do pensar.



1ARANHA, Maria Lucia de Arruda- Filosofando: introdução a filosofia- 2 ed., Moderna, São Paulo, 1993, p.93.




Daniel Moraes
Licenciando em Filosofia pela
Universidade Católica de Pernambuco




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